AGRADAR NÃO É CUIDAR
Querer agradar não é
sinônimo de cuidado com o outro. Comumente agradamos sem nos questionar se essa
postura é de fato cuidadosa.Obviamente o cuidado coincide por vezes com
atitudes agradáveis, de gentilezas por exemplo, mas se não estamos atentos às
reais motivações de nossa conduta, podemos assumir uma postura inautêntica
perante as pessoas com quem convivemos.
E qual o problema disso?O problema é que quando agradamos
inautenticamente, sem nos dar conta, nos distanciamos e nos perdemos de nós
mesmos. Abandonamo-nos em nossas reais vontades, sentimentos, opiniões e etc.,
e, portanto, já não somos mais nós quem estamos na relação, mas sim uma espécie
de “personagem” que nos substitui. Por mais que o personagem agrade e receba aplausos
o eu legítimo permanece inseguro, pois exibe aquilo que julga desejável ou
aprovável pelo outro, sem arriscar ser visto naquilo que teme ser rejeitável ou
criticável. Grosso modo, opta por uma relação “parcial e segura” em detrimento
do risco de apostar em uma relação “total sem garantias”. Exibindo apenas o que
agrada “garante” mais a aceitação do outro, todavia priva-se de ser por inteiro
e se relacionar por inteiro. Sem autenticidade nenhuma relação é verdadeira.
Certamente nem todos são capazes de nos acolher em nossa inteireza, todavia
muito frequentemente nos perdemos de nós mesmos, descuidamos de nossa relação
conosco ao tomarmos a decisão de delegar a outros que nos proporcionem o afeto,
aceitação e valorização que não temos conseguido ou não acreditamos que seja
possível nos proporcionar. Subestimamo-nos e, consequentemente, nos submetemos.
Cuidar vai em outra direção, abrange o frustrar,
colocar limites e respeitar nossos próprios limites. A qualidade do cuidado com
o outro está diretamente ligada à qualidade do cuidado conosco. Cuidar é também
dizer alguns nãos desagradáveis aos ouvidos dos outros e pode até mesmo
implicar em perdas ou distanciamentos relacionais. Mas nenhuma perda é maior
que a de si próprio e da possibilidade de viver relações verdadeiras e
significativas.
“Um ‘não’ dito com convicção é melhor e mais
importante que um ‘sim’ dito meramente para agradar, ou, pior ainda, para
evitar complicações" (Gandhi)
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