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AGRADAR NÃO É CUIDAR

Querer agradar não é sinônimo de cuidado com o outro. Comumente agradamos sem nos questionar se essa postura é de fato cuidadosa.Obviamente o cuidado coincide por vezes com atitudes agradáveis, de gentilezas por exemplo, mas se não estamos atentos às reais motivações de nossa conduta, podemos assumir uma postura inautêntica perante as pessoas com quem convivemos. 

E qual o problema disso?O problema é que quando agradamos inautenticamente, sem nos dar conta, nos distanciamos e nos perdemos de nós mesmos. Abandonamo-nos em nossas reais vontades, sentimentos, opiniões e etc., e, portanto, já não somos mais nós quem estamos na relação, mas sim uma espécie de “personagem” que nos substitui. Por mais que o personagem agrade e receba aplausos o eu legítimo permanece inseguro, pois exibe aquilo que julga desejável ou aprovável pelo outro, sem arriscar ser visto naquilo que teme ser rejeitável ou criticável. Grosso modo, opta por uma relação “parcial e segura” em detrimento do risco de apostar em uma relação “total sem garantias”. Exibindo apenas o que agrada “garante” mais a aceitação do outro, todavia priva-se de ser por inteiro e se relacionar por inteiro. Sem autenticidade nenhuma relação é verdadeira. Certamente nem todos são capazes de nos acolher em nossa inteireza, todavia muito frequentemente nos perdemos de nós mesmos, descuidamos de nossa relação conosco ao tomarmos a decisão de delegar a outros que nos proporcionem o afeto, aceitação e valorização que não temos conseguido ou não acreditamos que seja possível nos proporcionar. Subestimamo-nos e, consequentemente, nos submetemos.
Cuidar vai em outra direção, abrange o frustrar, colocar limites e respeitar nossos próprios limites. A qualidade do cuidado com o outro está diretamente ligada à qualidade do cuidado conosco. Cuidar é também dizer alguns nãos desagradáveis aos ouvidos dos outros e pode até mesmo implicar em perdas ou distanciamentos relacionais. Mas nenhuma perda é maior que a de si próprio e da possibilidade de viver relações verdadeiras e significativas.
“Um ‘não’ dito com convicção é melhor e mais importante que um ‘sim’ dito meramente para agradar, ou, pior ainda, para evitar complicações" (Gandhi)


(texto produzido pelos psicólogos André Ramalho e Stéphanie Oliveira - Equipe CPH MINAS)


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