Pular para o conteúdo principal

ENCONTRO


Sermos vistos em nossa verdade, livre de julgamentos e com a mais plena aceitação possível, é algo libertador (ou liberta-dor se preferir). Devolve-nos ao nosso eixo tantas vezes abalado ou perdido nas inúmeras demandas de nossas vidas. Tal olhar retém a potência de uma espécie de salva vidas existencial, o qual nos desafoga de nossas angústias no enfrentamento da vida. Um encontro legítimo faz que o impossível, quando não o deixa de ser, seja no mínimo mais suportável. Já não nos sentimos tão sós e desamparados diante do inevitável.

Em muitos momentos de encontro legítimo sentimo-nos como que resgatados de um calabouço frio e solitário. Somos profundamente tocados ao receber os primeiros raios de luz daquele sol relacional após períodos de clausura. Não que a dor se dissipe magicamente, mas já não é vazia de sentido. Pois o verdadeiro encontro é isso também: possibilidade de resgate de sentido; esse combustível que nos move pelos caminhos da vida. Reabastecidos, seguimos em frente fortalecidos e - talvez por graça, por gratidão – desejantes de retribuir, de distribuir essa luz que nos toma e transborda. Leva-nos a querer encontrar mais.

Não que isso nos imunize de novos desencontros. Mas um encontro verdadeiro, plenamente vivido, torna-se critério vital. Já não podemos nos contentar com menos; exigimos que seja mais! Exigimos para nós mesmos e para todos, pois que, quanto mais “encontrados” mais facilitamos que o outro se encontre e, quanto mais o outro estiver de posse de si, também ele nos auxilia em nosso constante “ser mais”. 
Uma verdadeira retroalimentação crescente e, por que não, positiva.

Mas não sejamos ingênuos; são necessárias doses altas de cuidado para que nossos encontros não se tornem desencontros e prossigam sendo fonte de crescimento rumo ao nosso ser mais pleno possível. Num encontro genuíno encontrar o outro é ir de encontro a si mesmo. 


(Texto produzido pelos psicólogos André Ramalho e Stéphanie Oliveira da Equipe CPH MINAS - conheça nosso trabalho em www.cphminas.com.br).



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PLANTÃO PSICOLÓGICO: UM ESPAÇO DE ESCUTA, ACOLHIMENTO E RESSIGNIFICAÇÃO O homem contemporâneo tem demandado novas formas de inserção do psicólogo; na verdade, uma nova postura, um novo olhar sobre ele. Portanto, necessitando de um profissional mais comprometido com o contexto social. A definição de clínica, em função disso, não pode mais se restringir ao local e à clientela que atende; trata-se, sobretudo, de uma postura diante do ser humano e sua realidade social, exigindo, portanto, do psicólogo, uma capacidade reflexiva continuamente exercitada em relação à própria prática, da qual se origine um posicionamento ético e político (Dutra, 2004). O plantão psicológico, segundo Oliveira (2005), acontece como um espaço que favorece a experiência, tanto do cliente como do plantonista, no qual o psicólogo se apresenta como alguém disposto, presente e disponível e não apenas como detentor do conhecimento técnico. E isto seria um estar junto, um inclinar-se na direção d
COMO LIDAR COM A CULPA   Na vida, de forma geral,   estamos sempre nos responsabilizando pelos nossos atos. E isso é bom! No entanto, em alguns momentos, somos pegos, assumindo uma forma exacerbada com a perfeição que, ao percebermos falhas em nossas escolhas, damos permissão ao sentimento de culpa, gerando um desconforto interno.   Cada um de nós carrega a culpa por um motivo ou situação. Culpa pelas palavras duras ditas em uma discussão, culpa pelo fim de um relacionamento, culpa por não ter feito algo, culpa por dizer não ao filho, culpa por não saber dirigir, culpa por não saber falar inglês.   A lista pode ser interminável.    A culpa pode ser considerada paralisante, com isto,   comprometendo a relação da pessoa consigo mesma e com os outros. Devido a um alto grau de exigência, algumas pessoas podem se achar merecedora desse sofrimento, ocasionando uma má qualidade de vida e o adoecimento emocional. Não há uma disponibilidade para perdoar a si próprio e também aos o
QUAL O SEU OLHAR DIANTE DA VIDA? Perante uma situação, ou alguém, você observa o modo como a enxerga? Quais “lentes” você utiliza para olhar o mundo externo? Convidamos você a se atentar a isso.  Podemos nos surpreender ao perceber que muitas vezes tomamos nossas opiniões por verdades. Sem nos dar conta, somos críticos e cheios de pré-conceitos, como que querendo fazer o outro e o mundo a nossa imagem e semelhança.  E qual o problema disso? Por acaso não podemos ter concepções próprias a respeito de tudo e todos? Obviamente que sim, e não se trata aqui de um discurso moralista, porém é interessante perceber que tendemos a pesar na medida do julgamento para conosco mesmos na mesma proporção do peso que utilizamos para com o outro. (Entendendo o “outro” sempre como tudo que não eu mesmo). Sorvemos nosso próprio “veneno”: reduzindo o outro acabamos por nos inferiorizar e expor nossa própria pequenez. Reduzimos a nós mesmos, por estarmos enrijecidos.