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FAZENDO AS PAZES COM A RAIVA

No decorrer de nossa existência somos acometidos por emoções, sensações e sentimentos de diversas ordens que, integrados à nossa personalidade, nos tornam únicos e VIVOS. Medo, amor, tristeza, culpa, dentre outros nos encontram em algum momento da vida, queiramos ou não. Há uma emoção naturalmente humana, porém poderosa e imprevisível, que quando a sentimos pode gerar tanto movimento saudável quanto profundos descontroles fisiológico-emocionais: a raiva. Embora temida por tantos, percebê-la com consciência pode nos ajudar a sair do lugar e a resolver questões. 
A raiva pode ser desencadeada a partir de diversas experiências de contato intra e interpessoais. Por exemplo, diante de uma percepção de fracasso ou frustração de expectativas, ao sentir-se abandonado ou rejeitado, ao reconhecer-se ameaçado na sua integridade física ou mental e, até mesmo diante de uma injustiça, a raiva pode se apresentar a partir de diferentes maneiras e intensidades. Configura-se, muitas vezes,  como indignação, revolta, mágoa, ira, ódio, etc...,  também pode se dirigir para o outro e até para si mesmo, assumindo estágios desde um singelo descontrole até uma completa impulsividade, deixando, por vezes, fortes consequências.
Como qualquer outra emoção, a raiva carrega uma energia própria, intensa e “quente”, necessitando, por isso, de um fluxo, de uma expressão. Por ser considerada, muitas vezes, “um sentimento negativo”, ela é constantemente negada ou amenizada, desfavorecendo a tomada de consciência e, por consequência, a experienciação e significação da mesma. Sentir a raiva não significa comportar-se com raiva. Permitir-se sentí-la e, portanto, compreendê-la é a chance que temos de não sermos regidos pelo seu poderoso ímpeto sendo, então, mais capazes de escolher como nos expressar e comportar diante do outro e da vida.
Como acolher essa emoção tão humana que aparece em circunstância alheia a nossa vontade e nos causa tanto desconforto? A raiva quer nos dizer (ou gritar) algo muito precioso sobre mim mesmo. Se aceito de primeira o seu convite para a ação, posso estar perdendo a valiosa oportunidade de parar ao seu lado para amigavelmente perguntar-lhe: Raiva, o que você quer de mim? O que você está reivindicando da vida? Buscar o sentido da raiva em mim, e não no outro, é a possibilidade de não ficar preso aos desconfortos e feridas geradas por ela e ir ao encontro das minhas verdadeiras necessidades existenciais, transformando-a então em uma ação cuidadosa para si mesmo.
“Se sua casa estiver pegando fogo, a coisa mais urgente que você tem a fazer é apagar o incêndio e não correr atrás da pessoa que o provocou. Esta não seria uma atitude sábia. Da mesma maneira, quando você sente raiva, se continuar a discutir com a outra pessoa, se tentar puní-la, você estará agindo exatamente como aquele que corre atrás do criminoso enquanto as chamas estão devorando a casa dele”. (Thich Nhat Hanh)

(Texto produzido pelas psicólogas Ana Lídia Mafra e Lilian Tarabal – Equipe CPH MINAS)
www.cphminas.com.br

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