Pular para o conteúdo principal

CARL ROGERS

CARL ROGERS


Fundador da Abordagem Centrada na Pessoa, Carl Ranson Rogers foi um renomado psicólogo americano do século XX. No contexto da psicologia clínica, foi o primeiro psicólogo a exercer a função de psicoterapeuta e o pioneiro no interesse pela pesquisa científica em psicoterapia. Como integrante do movimento humanista, contribuiu com a consolidação dos princípios da Psicologia Humanista fundando uma abordagem terapêutica que acredita no potencial humano, na sua capacidade de modificar-se e atualizar-se no sentido do crescimento saudável.

Carl Ransom Rogers nasceu no dia 8 de janeiro de 1.902 em Oak Park, Chicago, Estados Unidos e cresceu numa família com fortes princípios religiosos. Diferente da maioria das famílias da redondeza, tinham uma vida social restrita e quase exclusivamente dedicada ao trabalho. A atmosfera familiar era afetuosa, mas não existia uma convivência profunda entre eles, o que, somado à pouca vida social, fazia Rogers sentir-se solitário e refugiar-se na leitura incessante (Rogers, 2001). Quando os filhos tornaram-se adolescentes, a família mudou-se para uma fazenda, ficando ainda mais afastada de centros urbanos. Neste período, Rogers interessou-se pelo estudo das borboletas e pela agricultura racional. Essas duas atividades tiveram influência sobre o trabalho futuro do psicólogo e pesquisador (Rogers, 2001).

Mais tarde foi para Wisconsin para a faculdade estudar agricultura. Decorridos dois anos, passou a interessar-se pela religião e optou pelo sacerdócio, matriculando-se na faculdade de história como uma preparação. No primeiro ano, foi escolhido, com outros estudantes, para uma viagem à China onde entrou em contato com religiões orientais e libertou-se da visão religiosa de seus pais (Rogers, 2001).

Em 1924, entrou para o Union Theological Seminary, o seminário mais liberal da época, nos EUA. Ali, junto com alguns colegas, participou da organização do que se poderia considerar o primeiro seminário centrado no grupo, um seminário sem orientador cuja intenção era a exploração de questões de interesse do próprio grupo. Nesse grupo, que se tornou altamente satisfatório e enriquecedor, Rogers optou por desistir da vida religiosa para encontrar uma área em que a livre expressão fosse possível, ou seja, um caminho em que pudesse compreender a si mesmo sem que Deus estivesse, obrigatoriamente, presente na caminhada (Rogers, 2001).

Na própria Union começa a interessar-se pelas conferências de psicologia e psiquiatria que estavam iniciando. Fez vários cursos na Universidade de Colúmbia, no Teacher´s College e depois começou a trabalhar com filosofia da religião, realizando, em seguida, trabalhos clínicos práticos com crianças. Daí para tornar-se psicólogo foi apenas um passo, decorrente apenas da escolha pelas atividades que lhe despertavam interesse (Rogers, 2001). Seguindo seu rumo, foi aceito como interno no Instituto para a Orientação da Criança, onde entrou em contato com as ideias psicanalíticas. A visão da psicanálise era completamente diferente das técnicas científicas rigorosas que tinha estudado até então, o que lhe impulsionou no sentido da resolução de um conflito decorrente do choque de visões tão distintas (Rogers, 2001).

Em busca de um trabalho para sustentar seu doutorado, empregou-se no centro de estudos Child Study Department, em Rochester. Durante oito anos trabalhou exclusivamente com crianças sem condições financeiras de um tratamento particular, enviadas pelo Estado. Como não havia um método científico de controle dos resultados, seu método de trabalho foi sendo construído a partir da experiência até que, entre erros e acertos, concluiu que o melhor era deixar que o cliente desse “a direção do movimento do processo terapêutico” (Rogers, 2001: 13). 

Naquela época, foi percebendo que seu trabalho se afastava das atividades típicas da psicologia, cheias de regras e métricas e aproximava-se mais da assistência social. Chegou a duvidar que era um psicólogo, mas, mesmo assim, foi deixando-se guiar pela sua experiência, independente dos colegas e do grupo. Começou a lecionar no curso de Sociologia sobre como tratar crianças problemas; depois na Pedagogia e, somente mais tarde, no Instituto de Psicologia de Rochester. Nessa época também teve seus dois filhos, o que, segundo ele, ensinou-lhe muito sobre o indivíduo, sua evolução e suas relações.

Em 1940, depois da publicação da sua primeira obra, Clinical Treatment of the Problem Child, passou a lecionar em Ohio como professor efetivo. A partir daí percebe, no contato com seus estudantes, como havia desenvolvido uma perceptiva de trabalho pessoal, elaborada através dos anos de prática (Rogers, 2001). Rogers só teve consciência da originalidade do seu pensamento quando foi confrontado com as reações provocadas pela conferência que fez na Universidade de Minnesota no dia 11 de dezembro de 1940. Nesse dia, Rogers tornou público sua proposta para um novo modelo de psicoterapia, um modelo que tinha como objetivo principal contribuir com o processo de crescimento das pessoas, deixando de lado a visão de psicoterapia como a solução de um problema em particular. 

Mesmo assim, acreditando ter algo a comunicar, escreveu em 1942 seu segundo livro, Counseling and Psychotherapy, o primeiro sobre aconselhamento centrado no cliente e que, no início, deixou o editor em dúvida sobre uma demanda suficiente, mas depois se tornou um sucesso de vendas (Rogers, 2001). Rogers construiu seu diferencial de psicoterapia sustentado na existência de uma tendência individual para o crescimento e saúde, na ênfase dos elementos emocionais em detrimento dos intelectuais, na priorização do presente em detrimento do passado e no reconhecimento do papel da relação terapêutica na experiência de crescimento. Em defesa da ideia de que a personalidade humana tende à saúde e ao bem-estar, Rogers desenvolveu atitudes facilitadoras e recursos interventivos que permitem o resgate do potencial realizador existentes em todo ser humano. Nesse sentido, sua proposta transfere a importância da técnica para as atitudes do terapeuta, prioriza a capacidade do cliente para a auto atualização das suas potencialidades e, finalmente, valoriza a potencialidade terapêutica da relação.

A partir de 1940, verifica-se a consolidação e a evolução das suas ideias através das inúmeras publicações, representadas em livros e artigos científicos. Dos 16 livros publicados destacam-se: “Terapia Centrada no Cliente” (1951), “Tornar-se Pessoa” (1961) e “Um Jeito de Ser” (1980). Em Terapia Centrada no Cliente, ele desenvolve, de uma forma mais completa, suas ideias apresentadas inicialmente em Psicoterapia e Consulta Psicológica, reconhecendo que seus princípios podem ser aplicados a outros campos (Rogers, 2005).

Em 1967 apresenta o seu modelo de abordagem centrada na pessoa e a sua filosofia de intervenção, não só como um modelo de psicoterapia, mas também como uma abordagem eficaz em todas as relações humanas, quer sejam relações de ajuda, relações pessoais ou políticas. Um pouco antes da dimensão espiritual, Rogers deu ênfase ao trabalho com grupos e, através deste, à crença de que sua proposta teórica poderia ajudar na sociedade como um todo – pelo fim da guerra e na busca pela paz.

Nos últimos anos de sua vida, principalmente após a morte de sua esposa, Rogers desenvolveu um maior interesse pela dimensão espiritual do homem, num espírito de liberdade e tolerância, guardando sua confiança num futuro melhor, sem ignorar todo o sofrimento que faz parte de nossas trajetórias.

Em 1987, o seu nome é indicado ao prêmio Nobel da Paz.

Rogers faleceu na cidade La Jolla, Califórnia EUA, em 4 de fevereiro de 1987.

“Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando posso ser eu mesmo. … Julgo que aprendi isto com meus clientes, bem como através da minha experiência pessoal – não podemos mudar, não podemos afastar do que somos enquanto não aceitarmos profundamente o que somos.”  Carl Rogers

Referências
ROGERS, C. R. (2005) Um Jeito de Ser. 6 reem. (M. C. M, Kupfer; H, Lebrão; Y. S. Patto, Trad.) São Paulo: E.P.U.,2005. 
ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. 5 ed 3 tir. (M.J.C, Ferreira e A. Lamparelli, Trad.) São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
ROGERS, C. R. & ROSENBERG, R. A Pessoa como Centro. São Paulo: E.P.U., 1977. 

(Texto produzido por Dalissa Teixeira - Equipe CPHMINAS)

www.cphminas.com.br



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Criança é tanto! Ter uma criança entre os braços é testemunhar o milagre da vida num abraço sentir o cheiro da pele de um pequenino é como desvendar o perfume Divino olhar nos olhos de uma criança é reencontrar a esperança aceitar, amar e cuidar desse novo ser é descobrir o sentindo da palavra acolher   é ter a certeza de que Deus em sua simplicidade  ainda acredita na humanidade!  (Poesia de Maria Luiza Roch a, fundadora e membro do CPH MINAS)
COMO LIDAR COM A CULPA   Na vida, de forma geral,   estamos sempre nos responsabilizando pelos nossos atos. E isso é bom! No entanto, em alguns momentos, somos pegos, assumindo uma forma exacerbada com a perfeição que, ao percebermos falhas em nossas escolhas, damos permissão ao sentimento de culpa, gerando um desconforto interno.   Cada um de nós carrega a culpa por um motivo ou situação. Culpa pelas palavras duras ditas em uma discussão, culpa pelo fim de um relacionamento, culpa por não ter feito algo, culpa por dizer não ao filho, culpa por não saber dirigir, culpa por não saber falar inglês.   A lista pode ser interminável.    A culpa pode ser considerada paralisante, com isto,   comprometendo a relação da pessoa consigo mesma e com os outros. Devido a um alto grau de exigência, algumas pessoas podem se achar merecedora desse sofrimento, ocasionando uma má qualidade de vida e o adoecimento emocional. Não há uma disponibilidade para p...

A Interdependência como oportunidade de CUIDADO

A Interdependência como oportunidade de CUIDADO Apesar das grandes incertezas do momento que despertam em cada um de nós uma infinidade de sentimentos, estamos tocados pelo tema que está posto nas entrelinhas de todo o processo da Pandemia: a nossa real e profunda interdependência humana .   A afirmação das nossas diferenças culturais, religiosas, étnicas, ideológicas e outras mais, são convidadas, compulsoriamente, a darem lugar à consciência essencial de que somos HUMANOS concretamente entrelaçados a partir das nossas relações. E cada vez mais, as nossas distâncias vão nos aproximando da imperativa realidade da nossa mútua dependência. Outrora tão negada, nesse momento somos chamados a percebê-la a partir do reconhecimento elementar do que define a vida: o AR, respiramos a mesma existência desde que nascemos. Carl Rogers, importante psicólogo americano, há décadas nos orientava sobre essa realidade: “Aquilo que é mais pessoal, é o que há de mais geral...