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 O meu processo e o processo do outro

    Nossa vida e nossa subjetividade podem ser comparadas ao oceano. Quando visto de cima, é um amontoado de cores e formas, preenchidos por barcos, jangadas, lanchas,iates e  navios.

    Imaginemos que cada uma destas embarcações seja uma pessoa, e que o oceano, em toda sua imensidão, represente a profundidade que existe em cada ser humano. Em alguns momentos, a água está turbulenta e o tempo não está favorável, fazendo com que alguns barquinhos fiquem vulneráveis e suscetíveis a sofrer quedas . Em outros lugares do oceano, o tempo está fresco, a água calma e o sol radiante. Assim como a vida, cada um está passando por um processo diferente: ora alguns estão sentindo dificuldades, dúvidas e temores, e outros estão desfrutando a imensidão e beleza das cores do mar, cada um com seu transporte.

    Há quem escolha jangadas para se aventurar com as brisas e sentir o mar mais próximo; Há quem escolha o barquinho para ter mais controle e cuidado a cada remada, há quem escolha navios e iates para se sentir mais confortável e seguro; Há aquela pessoa que está remando um barco e cuidando do seu processo para um dia chegar a um iate, e também há quem esteja feliz em seu barquinho, desfrutando da segurança de uma âncora para simplesmente tomar um sol em meio a imensidão azul. E assim é a vida: cada um no seu processo, cada um com seu desejo de estar onde lhe faz sentir melhor.

    Neste grande percurso, algumas regiões podem estar chuvosas, nebulosas, turvas e muito ameaçadoras. Há quem escolha passar pela tempestade sozinho, e há quem escolha companhia e ajuda para atravessar a tormenta.

    Neste processo de ajuda, para ser um facilitador é importante verificar como está seu barquinho, iate, lancha ou navio para então conseguir ajudar o outro. Por vezes, na tentativa de ajudar quem está em apuros, o barquinho se afunda. Assim é a vida: em alguns momentos precisamos nos retirar, na tentativa de autocuidado e do não atropelo dos nossos sentimentos, e isso não significa que estamos abandonando ou desconsiderando a tormenta.

    Nos antagonismos da vida, existem regiões em que os barquinhos estão desfrutando do sol, das cores azuis que se misturam aos corais e dos peixes que são refletidos em águas transparentes. Existem barquinhos que se ancoram simplesmente para contemplar toda essa beleza chamada VIDA. Ao ver de fora, pensamos que esses seres nunca sofreram tempestades e tormentas, mas, muitas vezes, são barquinhos cansados de navegar pela tempestade, pessoas cansadas de remar e com desejos de usufruírem e contemplarem toda a outra parte do oceano.

    É importante nos conectar com o fato de que cada um está em um processo diferente na vida, e que, para ajudar o outro, é necessário autocuidado e atenção para não acabar afundando os dois barquinhos .

    Barcos navegam com a ajuda dos remos, lanchas percorrem com maior velocidade com ajuda de motores mais potentes, jangadas com seus motores de rabeta, mas estão todos no mar. Estamos todos na VIDA, cada um com suas dificuldades, alegrias, tristezas, dores e realizações.

(Texto produzido pela Psicóloga Lilian Tarabal, da Equipe CPH MINAS)


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